Emília no país da gramática - monteiro lobato
Emília no País da Gramática
CÍRCULO DO LIVRO S.A. São Paulo, Brasil
Licença editorial para o Círculo do Livro por cortesia dos herdeiros de Monteiro Lobato e da Editora Brasiliense S.A.
NOTA AO LEITOR
Desde a época em que Monteiro Lobato escreveu EMÍLIA NO PAÍS DA GRAMÁTICA foram feitas algumas alterações na nomenclatura gramatical. Isso explica por que alguns termos por ele empregados nesta obra podem parecer desatualizados.
Os editores
I
Uma idéia da Senhora Emília
Dona Benta, com aquela paciência de santa, estava ensinando gramática a Pedrinho. No começo Pedrinho rezingou. — Maçada, vovó. Basta que eu tenha de lidar com essa caceteação lá na escola. As férias que venho passar aqui são só para brinquedo. Não, não e não. . . — Mas, meu filho, se você apenas recordar com sua avó o que anda aprendendo na escola, isso valerá muito para você mesmo, quando as aulas se reabrirem. Um bocadinho só, vamos! Meia hora por dia. Sobram ainda vinte e três horas e meia para os famosos brinquedos. Pedrinho fez bico, mas afinal cedeu; e todos os dias vinha sentar-se diante de Dona Benta, de pernas cruzadas como um oriental, para ouvir explicações de gramática. — Ah, assim, sim! — dizia ele. — Se meu professor ensinasse como a senhora, a tal gramática até virava brincadeira. Mas o homem obriga a gente a decorar uma porção de definições que ninguém entende. Ditongos, fonemas, gerúndios. . . Emília habituou-se a vir assistir às lições, e ali ficava a piscar, distraída, como quem anda com uma grande idéia na cabeça. É que realmente andava com uma grande idéia na cabeça. — Pedrinho — disse ela um dia depois de terminada a lição —, por que, em vez de estarmos aqui a ouvir falar de gramática, não havemos de