Empresa nao e a mae
Uma pesquisadora das relações trabalho-empregado fala da "cultura do crachá" e considera falido o modelo da empresa que cuida de tudo
Dorrit Harazim
"Quadros altamente qualificados não sabiam montar um currículo ou se preparar para uma entrevista"
O estilo de Maria Aparecida Rhein Schirato, seja como professora de pós-graduação, seja como consultora de empresas, tem pouco lero-lero. "Os programas de demissão voluntária são uma mentira", "os departamentos de recursos humanos são arcaicos", "o crachá destrói a identidade civil do cidadão", diz. Graduada em filosofia pura e titular de dois mestrados (em filosofia da educação, pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, e em educação, pela Universidade de São Paulo, USP), o que mais a empolga, no momento, é uma pesquisa que está desenvolvendo sob orientação da professora Rosa Maria Melloni, da USP, sobre as relações entre funcionário e empresa de médio ou grande porte. Mais especificamente sobre a perda de identidade do trabalhador, quando ao vínculo profissional de trabalho se soma um elo de dependência afetiva. Baseada no acompanhamento de mais de 400 demitidos de uma grande empresa de aviação, ela alerta para os riscos dessa dependência. Maria Aparecida Rhein Schirato tem 45 anos, três filhos, uma empresa de consultoria com o marido (a Rhein Schirato Consultores) e entende de desemprego: já foi demitida duas vezes durante a carreira.
Veja – A que conclusão chega sua pesquisa?
Rhein – Que a empresa como grande mãe gera filhos dependentes, trabalhadores inseguros e sem vida pessoal. Ambos perdem: a organização, por acumular filhos devotos, imaturos para o mercado. E o trabalhador, porque ele não cresce, apenas ocupa o espaço que lhe é concedido.
Veja – Nestes tempos de desemprego, como esse trabalhador se situa?
Rhein – De forma ingênua e imatura. Algumas estatais assumiram com o governo o compromisso de preparar os funcionários para o mercado de trabalho antes de ser