Em busca de ordem
EM BUSCA DE ORDEM
“O místico crê num Deus desconhecido.
O pensador e o cientista crêem numa ordem desconhecida. É difícil dizer qual deles sobrepuja o outro em sua devoção não racional.” L. L. Whyte
A.1 Não importam as diferenças que separam o senso comum da ciência: ambas estão em busca de ordem.
Você não acha curioso este fato? Cada um à sua moda, o menino Azande e o mais sofisticado cientista estão atrás de uma mesma coisa.
Por quê?
Para responder a esta pergunta temos de sair dos domínios da filosofia da ciência e entrar no mundo fascinante do comportamento dos organismos e das pessoas. E aí descobrimos que a exigência de ordem se fundamenta na própria necessidade de sobrevivência. Não existe vida sem ordem nem comportamento inteligente sem ela. Pense sobre as seguintes afirmações de
Prescott Lecky:
“A habilidade para prever e predizer os acontecimentos ambientais, de entender o mundo em que se vive, e assim a capacidade para antecipar eventos e evitar a necessidade de reajustamentos bruscos, é um pré-requisito absoluto para que o indivíduo se mantenha inteiro. O indivíduo deve sentir que ele vive num ambiente estável e inteligível, no qual ele sabe o que fazer e como fazêlo...”
“A aprendizagem parece ser, basicamente, um processo unificador cujo objetivo é uma atitude livre de conflitos” (Prescott Lecky. Self-Consistency. p.
83).
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Rubem Alves – Filosofia da Ciência
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O que eu desejo que você anote é isto: a inspiração mais profunda da ciência não é um privilégio dos cientistas, porque a exigência da ordem se encontra presente mesmo nos níveis mais primitivos da vida.
Se não necessitássemos de ordem para sobreviver não a procuraríamos.
E é somente porque a procuramos que a encontramos.
A ciência é uma função da vida. Justifica-se apenas enquanto órgão adequado à nossa sobrevivência. Uma ciência que se divorciou da vida perdeu a sua legitimação. A.2 Não se pode negar, por outro