educação patrimonial
Karin Kreismann Carteri A concepção de patrimônio histórico-cultural teve seu nascedouro nas elites socioeconômicas européias e objetivava o estabelecimento e a manutenção do discurso semiótico contido nos bens patrimoniais através do culto aos mesmos. Os bens patrimoniais são predominantemente materiais e recentemente os “saberes”, “fazeres” e elementos naturais e ambientais foram incorporados aos patrimônios oficiais (O QUE...), sendo que estes bens materiais e imateriais se referem à identidade, à ação e à memória dos grupos heterogêneos formadores da sociedade brasileira. Embora o discurso formal pretenda incluir as manifestações multiculturais destes grupos, o patrimônio histórico-cultural é primeiramente originário das elites socioculturais e por estas imposto ao povo, que por sua vez nem sempre o aceita como tal. Segundo Byrne apud Funari os grupos dominantes promovem o “seu” patrimônio em detrimento do produzido ou oriundo dos grupos subordinados, propiciando um sentimento de desligamento entre esses grupos e o patrimônio. Essa ausência de laços de pertencimento pode, indubitavelmente, explicar parcialmente a epidemia de vandalismo que vem tomando o país. Mesmo que não seja aceitável, é compreensível que haja desinteresse popular em preservar bens patrimoniais que lhe são indiferentes ou que os oprimem, e tanto o vandalismo quanto a indiferença repercutem a “carência de meios de auto-expressão das gentes contemporâneas [e a] pichação funciona como um palavrão que se libera ”. (GASTAL apud VERAS, 2008). Assim o vandalismo é um libelo contra o patrimônio imposto e estranho aos perpetradores das depredações, pichações e furtos, que por meio dele “gritam” aos surdos ouvidos da sociedade a sua insatisfação perante a cultura “oficial” com a qual os bens culturais advindos de esferas culturais diversificadas contrastam, sendo muitas vezes por ela incompreendidos.