educação do homem burgues
Quase vinte anos depois desta carta de Voltaire (1694-1778), Diderot (1713-1784) se dirigia a outra majestade, a Imperatriz Catarina da Rússia, e a aconselhava a respeito do Plano de Uma Universidade, destinada a ministrar instrução para todos. Ê bom que todos saibam ler, escrever e contar - dizia ele -:- desde o PrimeiroMinistro, ao mais humilde dos camponeses." E pouco mais adiante, depois de indagar por que a nobreza se havia oposto à instrução dos camponeses, respondia nestes termos: "Porque é mais difícil explorar um camponês que sabe ler do que um analfabeto."
Ambos eram representantes do Terceiro Estado. Por que, então, opiniões tão opostas? E: que, como já vimos, Voltaire era um intérprete da alta burguesia e da nobreza letrada, ao passo que Diderot representava as aspirações dos artesã os e dos operários. Ê fato bem sabido que o assalto definitivo ao mundo feudal foi comandado pela direita da burguesia, que lhe imprimiu a sua marca, e ainda' que a pequena burguesia, sob o impulso de Robespierre, tenha conseguido arrastar a grande burguesia até conseqüências extremas, também não é menos verdade que esse controle não esteve durante muito tempo em suas mãos. Tão logo a burguesia conseguiu triunfar, pôde-se ver que a "humanidade" e a "razão" que tanto havia alardeado não passavam da humanidade e da razão "burguesa". Na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, a "propriedade" aparece imediatamente depois da "liberdade", entre os direitos "naturais e imprescritíveis". E se, por acaso, esse segundo artigo da Declaração poder-se-ia prestar a equívocos, aí está o último artigo para dirimir quaisquer dúvidas, afirmando que a propriedade é "um direito inviolável e sagrado". Além disso,