Educar pra quê?
Educar pra quê?
Frei Betto
Adital - Brasil - Falar de educação é falar de sociedade. Um dos reflexos da concepção cartesiana que temos da educação é que as distinções são mais acentuadas do que as conexões. Por isso, hoje se fala em concepção holística da educação, de modo a reatar os nós desatados pela modernidade cartesiana. Reza a
Constituição brasileira: "A educação é de responsabilidade da família, da escola e da sociedade". Às vezes, imagino os promotores, o Ministério Público, entrando com recurso junto à União, penalizando a sociedade por não cumprir seu papel educativo.
Em nações indígenas tribalizadas, a educação de uma criança depende de todo o conjunto da comunidade; não é responsabilidade da escola, que não existe, nem dos pais, porque toda a comunidade é concebida como sendo a família da criança e do jovem. É evidente que essa utopia não é mais realizável nas nossas cidades que, inclusive, foram concebidas, não em função da humanização das pessoas, mas como burgos. Daí o nome "burguês": aquele que vivia numa confluência, num entroncamento de caminhos, em que se dava a troca de mercadorias. O que marca a origem das cidades no Ocidente, tais como as conhecemos hoje, é o interesse econômico. Todo planejamento viário da cidade é feito em função do fluxo da economia, e não da qualidade de vida dos cidadãos. Embora o Brasil tenha, hoje, mais de 80% da sua população na cidade, ainda resistem no campo quase 20%. E é no campo que se encontra o maior contingente de mão-de-obra entre os 64 milhões de trabalhadores brasileiros. Como é possível a agricultura ainda representar o setor que mais absorve mão-de-obra (23%, seguindo-se o setor de serviços, que emprega 21%) se há tão pouca gente no campo? Infelizmente isso é perfeitamente explicável se trabalharmos com o fator bóia-fria. Pessoas que, todas as madrugadas se deslocam de um centro urbano para trabalhar, ou pessoas que passam períodos na zona rural em busca do seu sustento.