Drogas e emoções
Drogas e emoções
1. Introdução
O consumo abusivo de drogas ou a sua dependência é um fenómeno ancorado corporalmente ou, como Leshner afirmou, “uma doença do cérebro” (Leshner, 1997b). De facto, a extensa bibliografia publicada desde 1966 até ao presente tem vindo a confirmar a implicação das estruturas e dos circuitos cerebrais não só na fase aguda mas também na fase crónica desta perturbação (cf., para revisão, Marques-Teixeira, 1998). Todo este corpo empírico de conhecimentos aumentou, em muito, a nossa compreensão sobre os processos neurobiológicos que estão na base desta perturbação, sendo hoje consensual a implicação de um conjunto de múltiplos sistemas neurofisiológicos e neuroquímicos quer no desenvolvimento quer na expressão da dependência às drogas. No plano neurofisiológico, têm sido apontados alguns défices cognitivos em sujeitos dependentes de substâncias (Wilson, 1987; Miller, 1990, 1991; Giancola et al., 1996a; Giancola et al., 1996b; McCusker, 2001) associados a disfunções nas regiões pré-frontais (Volkow et al., 1996; Gatley & Volkow, 1998; Volkow et al., 1999; Lokwan et al., 2000;Volkow & Fowler, 2000; Goldstein et al., 2001) e no sistema límbico (Graybiel et al., 1990; Imperato et al., 1992; Di Chiara, 1997; Rodriguez de Fonseca & Navarro, 1998; Alburges & Hanson, 1999; Childress et al., 1999; Alburges et al., 2000; Ciccocioppo et al., 2001). No seu conjunto, estes estudos sugerem a existência de défices na avaliação das situações, impulsividade e padrões compulsivos do comportamento em resultado de alterações na capacidade de avaliação das consequências e de actuar segundo essa avaliação. No plano neuroquímico têm sido referidas altas concentrações de dopamina e serotonina nas regiões límbico-frontais (Schmidt et al., 1996; Sulzer et al., 1998; Cummings, 2000), tendo sido sugerido que as suas consequências se traduzem em aumento das actividades de risco (Bardo et al., 1996) e em estados emocionais intensos (Schultz, 2000).
J.