Doutor
OPINIÃO ECONÔMICA
Ética: o que conta é o exemplo
ODED GRAJEW
Se fizermos uma pesquisa no Brasil, quase 100% das pessoas dirão que são contra a corrupção e a violência, a favor da ética, de uma melhor distribuição da renda, de eleger a criança e o adolescente, a educação e a saúde pública como grandes prioridades do país.
Ao mesmo tempo, nosso país é um dos mais corruptos e violentos do mundo, temos a pior distribuição de renda do planeta, nossas crianças e adolescentes estão entre as mais maltratadas do mundo e a nossa educação e saúde pública estão caindo aos pedaços.
Certamente algo está completamente errado. A prática não acompanha o discurso e, o que é pior, muita gente não percebe a relação e a compatibilidade que deveriam existir entre valores e a prática. Tão ou mais grave ainda é a inconsciência quanto ao fato de que o que conta mesmo são as ações, as atitudes, principalmente daqueles que ocupam posições de autoridade e que possuem o poder de criar exemplos e referências.
Outro dia estive com uma pessoa que estava assegurando, diante de um grupo sobre o qual detinha uma certa autoridade, que o grande problema no Brasil é a impunidade. Passados cinco minutos, me contou que havia subornado um guarda rodoviário para não ser multada.
Uma outra pessoa, ao mesmo tempo em que me fazia grandes elogios ao Instituto Ethos, dizendo que era mesmo de mais ética empresarial que estávamos precisando, me fez uma proposta de uma transação comercial feita com "meia nota", sonegando impostos, achando que estava fazendo uma ótima proposta (porque sairia mais barato), à custa do dinheiro público.
Já um outro conhecido queixava-se porque descobriu que seu filho estava mentindo sistematicamente e não entendia a razão. Achava que era culpa dos amigos ou da escola. Lembrei a ele das inúmeras ocasiões que o vi mentindo em frente do filho. Pequenas mentiras, mas são mentiras: "Diga que não estou", "não conte para fulano" e outras desse tipo. Discursos de anos a fio,