do etnocídio - pierre clastres
Criado logo após a 2ª Guerra Mundial, em 1946 no processo de Nuremberg, como resposta ao extermínio dos judeus pelos nazistas alemães, o termo genocídio criminaliza uma prática que foi amplamente usada ao longo da história: o extermínio de um povo ‘inferior’ por outros que se julgavam ‘superiores’, o que deriva de um pensamento racista. Dentre os inúmeros exemplos de massacres populacionais que se pode ver na história, Clastres destaca o sofrido pelos índios americanos, que começou com o descobrimento da América, em 1492, e se perpetua até os dias de hoje. É a partir dessa realidade que os etnólogos sentiram a necessidade de desenvolver o conceito do etnocídio, que é, segundo o autor, “a destruição sistemática dos modos de vida e pensamento de povos diferentes daqueles que empreendem essa destruição”. Ambos, genocídio e etnocídio, encontram suas origens na visão de que o outro é diferente de uma forma negativa e, por isso deve ser exterminado – de acordo com a visão genocida – ou deve ser melhorado e transformado até parecer-se com o modelo considerado ideal – de acordo com o pensamento etnocida.
Tal pensamento se torna possível pela ideia de hierarquização de culturas, que determina a existência de culturas inferiores e superiores, o que faz com que os povos que se consideram superiores empreendam a missão de elevar os povos “inferiores” ao seu próprio patamar, o que reflete a visão etnocentrista, que toma a própria cultura como referência, como padrão para julgar as demais. É possível perceber tal ideologia na atitude evangelista dos missionários