Antro/socio/histó/eco
Em 1977, ano da publicação original de Arqueologia da violência, vinham a público as atas do XLII° Congresso Internacional de Americanistas (Paris, 1976), reunidas no volume Social time and social space in lowland south american societies, organizado por Joanna Overing. Naquela ocasião, foram discutidos e delineados os principais problemas teóricos que guiariam o "americanismo tropical" nas décadas seguintes. De certa forma, esse último grande livro de Pierre Clastres, publicado postumamente, marca o fim de sua carreira intelectual — interrompida de forma trágica por um acidente de automóvel em 1977 — mas coincide também, por outro lado, com um momento de notável desenvolvimento na etnologia americanista. Esta última vem comprovando a atualidade do pensamento de Clastres, ao confirmar algumas de suas intuições fundamentais sobre os índios sul-americanos.
Não obstante, nesses últimos quase 30 anos, o acúmulo de conhecimento empírico, resultado de intensas pesquisas de campo, descobertas arqueológicas importantes, bem como de estudos lingüísticos detalhados, tornaram difícil a tarefa de apreciar esta obra que a Cosac & Naify dá à luz 24 anos após a edição original. Mais difícil ainda se, ao fazê-lo, pretende-se evitar o tratamento usual dispensado aos "clássicos" em nossa disciplina: indiferença parcimoniosa, por um lado, referência legitimadora, por outro.
Em que pesem as implicações profundas que a obra de Clastres tem, tanto para a antropologia política quanto para a filosofia em geral, o livro deixa clara a posição do autor como americanista e como pesquisador de campo. Ele teve contatos mais ou menos intensos com diversas sociedades sul-americanas — os Guayaki (1963-64), os Guarani (1965), os Chulupi do Chaco paraguaio (1966-68), os Yanomami (1970-71) — e a amplidão filosófica de seu pensamento é inseparável dessa experiência.
A presente