Do Conceito de Risco ao da Precaução: entre determinismos e incertezas
Autores: Grácia Maria de Miranda Gondim
Contextualizando o tema
Diariamente levamos em conta nossos riscos. Proteger-se da morte, da doença, da tempestade, do mau êxito nos negócios não é uma criação recente. Existem relatos de seguros para embarcações e proprietários de escravos já na Grécia do século II a.C. A prática de afastar riscos sempre esteve associada à possibilidade de ocorrência de eventos indesejáveis (Maciel & Telles, 2000).
No entanto, ‘risco’ é um termo muito recente. É uma noção genuinamente moderna, e está implicada na reorientação das relações que os indivíduos e as coletividades estabelecem com os acontecimentos que podem ocorrer no futuro. Não significa dizer que as pessoas não tenham experimentado, antes da era moderna, alguma situação de perigo. Sabe-se que a humanidade sempre enfrentou situações ameaçadoras de diversas ordens – as decorrentes da ação da natureza (enchentes, terremotos, vulcões, furações), as produzidas pelo homem (guerras, tecnologias), ou mesmo aquelas que ocorrem na vida cotidiana em função dos modos e estilos de vida dos indivíduos e dos grupos sociais (situações de trabalho, consumo de produtos, bens e serviços, hábitos culturais). Para Spink (2001), o que é ressaltado nesse conceito como novidade produzida pela modernidade é a (re)significação das situações de perigo, como uma tentativa de ‘domesticar o futuro’, ou seja, aprisioná-lo em uma rede explicativa de fatos conhecidos.
Dessa forma, o risco como concepção moderna cuja idéia central é controlar o futuro surge em oposição ao conceito de fatalidade e destino. Bernstein (1997: 1) em seu livro O Desafio aos Deuses corrobora com essa assertiva: a idéia revolucionária que define a fronteira entre os tempos modernos e o passado é o domínio do risco: a noção de que o futuro é mais que um capricho dos deuses e de que homens e mulheres não são passivos diante da natureza. Até os seres