Dias de Crise
Numa viagem a Atenas, feita recentemente a convite da Alter Summit para ir fotografar a Cimeira Alternativa (podem ler tudo aqui ou aqui), roubaram-me todo o equipamento fotográfico que levava comigo, para além de quase todo o trabalho. O trabalho é irrecuperável, mas, com o vosso apoio, o equipamento pode ser substituído. Veja como.
Aviso à navegação: este relato não é asséptico, nem imparcial. É a história de uma ida a Atenas, o berço da democracia agora transformado em laboratório de experiências pela Troika, que todos os dias mata em todos nós mais um pouco de esperança. É o relato do contacto, na primeira pessoa, com um estado policial, que nos deixa o sentimento de que, na Grécia, a polícia é um dos principais inimigos dos cidadãos. É a narrativa de uma perda pessoal. Do vazio que fica depois de nos roubarem algo que nos é precioso e vital. De nos sonegarem a memória. Mas é também a história de gente que resiste. Que teima em idealizar um sonho colectivo. Que persiste em ser solidária. E que acredita que todos os povos são irmãos.
Os funcionários públicos saíram à rua em manifestação, muitos sabendo já que serão os próximos a ser despedidos. Os outros, os que por enquanto ficam, sofrem em cada recibo de ordenado os cortes determinados por um governo que (quase) todos consideram ilegítimo. A indignação é cada vez menos controlável e o povo cada vez menos sereno. Nunca um Presidente da República foi tão insultado nem há lembrança de ministros tão amesquinhados como acontece nos casos de Relvas e Gaspar. Passos Coelho e o seu governo teimam em não ouvir a rua. Muitos dos chamados analistas políticos também não. Cada vez é mais notório que há dois lados: os que protestam contra estas politicas e os que, a partir do seu casulo, e guardados pelas forças de segurança, olham desconfortavelmente para as vozes que chegam da rua. Até quando?