Deleuze e a Arte: O caso da Literatura
Deleuze e a Arte: o caso da literatura
Ovídio Abreu
Um grito de Artaud – “Para dar um fi m ao julgamento de Deus!” – ressoa como questão fi losófi ca na obra de Gilles Deleuze. E essa questão se precisa e se desdobra em problemas que nascem do seu encontro com orientações variadas, oriundas de domínios diferentes. No campo fi losófi co, pode-se destacar os seus encontros com o problema do valor dos valores, posto por Nietzsche em conexão com uma genealogia do niilismo europeu; com a crítica da moral e o problema de um devir racional, apreendidos por Espinosa a partir de um enquadramento que relaciona Ética e Ontologia; com o desejo de Bergsonde libertar a fi losofi a de sua submissão ao Eterno, quando propõe o problema da possibilidade do Novo em conexão com uma fi losofi a da Duração. Desses encontros resulta a construção por
Deleuze de um empirismo superior que relaciona o postulado de Hume da exterioridade da relação em respeito aos termos com a subversão da teoria kantiana das faculdades. Isto ocorre justamente a partir de umareavaliação da idéia de gênese relacionada ao conceito de sublime, tal como formulado por Kant na Crítica do juízo. Esse percurso conduz Deleuze ao conceito de heterogênese como conceito adequado para pensar uma gênese do pensar no pensamento.
115
A relação de tal questão com os problemas que ela engendra envolve uma defi nição da fi losofi a como atividade criativa e orienta os encontros de Deleuze com as artes: literatura, teatro, pintura, música e cinema.
Para Deleuze não há uma hierarquia entre as atividades do espírito criadoras entre fi losofi a, ciência e arte. A fi losofi a é defi nida como prática de criação de conceitos, a ciência como criação de funções e aarte como criação de perceptos e afetos. Entre elas muitas conexões são possíveis: um percepto, um afeto, uma função podem estimular a criação de conceitos ereciprocamente. Nenhuma dessas atividades