Dançar sem fronteiras
O principal interesse deste trabalho é refletir sobre a linguagem da dança no sentido de ampliar suas fronteiras estéticas utilizando a performance e as tecnologias digitais[1]. Parte-se de relações estabelecidas entre os meios eletrônicos de produção de áudio e vídeo e a experiência de pesquisa nas duas principais vivências remanescentes das fiandeiras urbanas:[2] o ofício da tecelagem artesanal e os mutirões de fiação manual.[3] A motivação para desenvolver tal estudo partiu, inicialmente, da observação in loco da performance realizada pelas fiandeiras em exposições e feiras de artesanato. As formas peculiares como seus corpos se envolviam na lida de cada uma das ações do processo de fiação e o som produzido pelos giros da roda, somados às cantorias de trabalho, revelaram uma riqueza estética interessante de ser traduzida criativamente pela dança, assim como impulsionou o desejo de valorizar, re-interpretando, as expressões culturais contidas nesta memória coletiva de tão longa data. A hipótese de que os gestos, conteúdos simbólicos, histórias e canções dessas mulheres nascidas e criadas na zona rural, atualmente inseridas no contexto social urbano, poderia resultar em matéria-prima básica para a performance artística impulsionou a iniciativa de realizar uma pesquisa cênica de cunho teórico-prático. Assim, sucedeu-se a busca sistemática por estas ações de trabalho, indo a campo, observando, participando e redimensionando o dia-a-dia dessas senhoras pouco lembradas em sua profissão e ainda menos citadas na história. Deste modo, surgiu também uma reflexão para o campo da dança. Numa sociedade que caminha cada vez mais para o consumo e a disponibilidade de informações, como a dança se atualiza relacionando passado, presente e futuro? Poderia a dança atuar em benefício de uma memória coletiva, registrando-a também para a posteridade? Sendo assim, para a realização do trabalho de campo, foram investigadas