Essas nuvens ai do céu… coisa frouxa se escondendo nesse desbeiçamento do vento, um pedaço desajeitado, uma coisa, massa de água morna e despretensiosa que mora muito muito longe. Pera, é água fria, é de nuvem, não é? Ali, cubinhos, deve ser gelo… Não, fria não, ali não tem cubo nenhum, forma alguma, nem dureza qualquer, nem qualquer compromisso, e aí, pá!… se desfaz. Por aí, flertando livre com o ar. Ar esse que, bem determinado!… se movimenta pra frente, pra frente… Vem ai? Onde? Onde. Vem, senta, senta aqui, ouve. É possível descrever toda sua trajetória, prever um, dois, uma sequência de movimentos. Nuvens não, essas não. Não projetam, não planejam, não traçam e não propõem nada. Dançam. Dançam de mãos soltas com o vento… Dançam? Que verbo mais clichê! Dançar… Não, pode ser que dance. Quer dançar? Consigo ver ali uma bailarina, oh, a saia ali, almofadada pelo macio de nuvem, pano de água. Não, uma bailarina não. Pra ver a bailarina é preciso ter seis anos, ser princesa e olhar pro céu em cima dos ombros do pai. Talvez uma trapezista. O que cê fazer hoje? Não, não, não responde. Bailarina é que não é, é uma trapezista. Trapezista…. Se eu fosse uma trapezista não ia querer que ninguém me segurasse ia deixar cair ia deixar me estrebuchar pelo ar depois cair. Vê ali. Aquela bagunça de pedaços de nuvem é o espalhamento das minhas pernas se debatendo no ar. Mas não era bagunça nenhuma, era só nuvem mesmo, que se esqueceu de combinar com o vento as próximas linhas. Porque é sempre uma finura essa condição de linhas fronteiras com as quais a gente não sabe bem o que fazer e, uma palavra, mal desenhada mesmo, displicente e sem querer, cruza as bordas e pronto… já me vem esse rosto cheio de olho e com pouco dente que procura os olhos fingindo querer explicação, mas não querendo nada. A gente não pode aqui, alguém pode vir, alguém pode ver… pode ser que venha. Pode sim. Mas ninguém disse nada e das fronteiras das linhas tortas, mal cruzadas, mas cruzadas, ficou um grande