Da Democratiza O Democracia Cultural

“Da democratização à democracia cultural: uma reflexão sobre políticas culturais e espaço público”, de João Teixeira Lopes
1. Cultura: abordagens e modos de usar
São múltiplas as definições de cultura por um lado e, por outro, qualquer abordagem pedagógica tem de fazer referência a essa miríade e de efetuar uma triagem face a tal panóplia. É importante tentar perceber o “caldo mágico” que multiplica as definições e, ao mesmo tempo, tentar agrupá-las em tensões ou pólos relacionais heuristicamente fecundos. Existe então a possibilidade de pensar a própria prática científica como cultura, enquanto um conjunto de significados partilhados e entendidos, embora de forma desigual, pelos agentes sociais.
O conceito de cultura é um poderoso excitante intelectual. Permite densificar e fundar uma identidade: social, pessoal, nacional, étnica.
Na Antiguidade Clássica a cultura era perspetivada segundo o critério de que o indivíduo era nobilitado não pelo sangue ou herança mas pelo espírito cultivado, erudito, superior, livre face aos costumes, às tradições arcaicas, à irracionalidade e à religião. A cultura remete também para o húmus distintivo face à natureza, a vitória epopeica contra o instinto, a conquista imperial que, geração após geração, permite ao homem tornar-se “dono” da Natureza e do planeta. Há uma crescente importância dada à divulgação científica, apesar da resistente permanência dos “obstáculos naturalistas” de que “a natureza do homem é inteiramente interpretada pela cultura” e de que “as diferenças que poderiam parecer mais ligadas a propriedades biológicas particulares, como, por exemplo, a diferença dos sexos, nunca se deixam observar «em estado bruto» (natural) porque, por assim dizer, a cultura delas se apodera «imediatamente».
Os estudos sobre diferenciações sociais acentuam, cada vez mais, a sobredeterminação dos aspetos económicos, culturais e simbólicos, em vez de teimarem na vulgata marxista da dependência da superestrutura face à infraestrutura ou