CULTURAS JUVENIS
Letramentos e culturas juvenis: tecnologias, experiências sociais contemporâneas e as diferentes leituras do mundo
Alexandre Barbosa Pereira1
Quem não quer brilhar, quem não? Mostra quem.
Ninguém quer ser coadjuvante de ninguém
Racionais Mc’s, Da ponte pra cá
A cena é cada vez mais comum nas mais diferentes modalidades e instituições de ensino: o professor escreve na lousa a lição que deveria ser copiada por seus estudantes, que, em vez disso, preferem fotografar a lousa. Aplicam, assim, as inovações tecnológicas a seu favor para tentar minimizar o monótono esforço de copiar a lição e, desse modo, ganhar mais tempo livre para poder conversar, paquerar, zoar ou mesmo explorar algumas das múltiplas funções de seus smartphones. Cenas como essas revelam uma série de transformações que afetam direta ou indiretamente o cotidiano escolar e as suas práticas de letramento. Uma primeira constatação a ser ressaltada refere-se às dissonâncias que as novas tecnologias geram ao entrar no cotidiano das escolas e, inevitavelmente, confrontar-se com aquela realidade e com a prática docente. O ingresso das tecnologias, principalmente hoje, pelos smartphones e, mais recentemente, pelos tablets dos estudantes, contribui, em primeiro lugar, para introduzir o mundo externo ou alheio à escola. Não são apenas os aparelhos de telefone com seus múltiplos recursos que entram nas escolas, mas todo um universo multimidiático com o qual a escola sabe lidar muito pouco e, quase sempre, de forma desajeitada. Logo ela que se formou historicamente a partir de um grande zelo pelo estabelecimento de fronteiras rígidas com o mundo exterior.
Em minha pesquisa de doutorado, realizada com base em escolas públicas em bairros das periferias de São Paulo (PEREIRA, 2010), tento demonstrar como o fechamento atual das escolas, principalmente das públicas voltadas majoritariamente aos jovens pobres,
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Professor Adjunto da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Campus