Cultura material
Introdução
O conceito historicismo reúne significados múltiplos e discordantes, sinal não apenas de um problema de tradução da palavra historismus de sua língua original para o português, mas, sobretudo, de sua complicada historicidade. Tal conceito não comporta apenas atitudes intelectuais diversas, como também a própria história destes posicionamentos. Tendo em vista tal discordância, o presente trabalho pretende estudar o que veio a ser conhecido posteriormente como expressão do historicismo de língua alemã nos séculos XVIII e XIX, objetivando o entendimento sobre os seus significados, sem a pretensão de estabelecer um sentido definitivo ou unívoco para tal palavra.
Exatamente por isso, o que se quer fazer é analisar a sua constituição sob duas perspectivas, a saber: sua ligação com o Iluminismo e a querela entre o universal e o particular; e sua relação com a religião, sobretudo o pietismo alemão, e as diversas contribuições deste para a concepção do sentido da história encoberto aos olhos humanos. Primeiramente, a investigação perpassa a tendência historiográfica iniciada por Friedrich Meinecke e que entende o historicismo como um movimento cultural, uma weltanschauung, originada no seio do próprio Iluminismo, mas cuja crítica foi responsável pela destruição da visão de mundo jusnaturalista. Já na segunda parte, a análise transcorre pela historiografia alemã, representada por Herder, Humboldt e
Ranke, cujas idéias foram responsáveis pela consolidação do historicismo como uma atitude historiográfica e pela caracterização da tarefa do historiador a partir de novos parâmetros de cientificidade para a história.
Friedrich Meinecke afirmou que as origens do historicismo remontam, no entanto, aos pensadores setecentistas, não apenas os alemães, mas também franceses e ingleses, cujas idéias e formulações acerca da história permitiram concebê-la como um devir dinâmico.
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Segundo ele, a gênese do historicismo