Crônica

Eram duas da manhã, sexta-feira. Ou sábado, sei lá... Quando a isso, não tenho certeza. A certeza que tenho é que odeio essa gente que curte “corrigir o dia”. Acabara de publicar minha última crônica. Não a última do dia... Ou última da semana... Mas a última da minha vida... Última da minha morte. Sim, eu tinha um blog. Gostava de escrever nele; e as pessoas gostavam de ler. Pelo menos era o que eu achava até as duas da manhã; sexta-feira. Até hoje, o maldito comentário me persegue. Até o purgatório. Ele me apresentou ao fundo do poço e hoje somos melhores amigos. Lamento não ter tomado meu Gardenal; nas duas de sexta. Minha escrita que um dia fora tão bem falada e tão bem querida, hoje eu a desconheço. Eu, Vinícius Ceciliano, só conheço o meu lamento. Mas não pode ser, claro que não. Só pode ser um troll, um invejoso, um zé ninguém... Todos falam bem de meus textos, eu nunca fui criticado deste jeito; quem ele pensa que é? Eu não tenho tempo a perder com esse tipo de comentário não constrói, só destrói! Eu não mereço esse tipo de tratamento, não é justo! Por que comigo? O que foi que eu fiz?
E se eu retrucar? Posso convencê-lo de que não é bem assim... Ou posso argumentar com ele até o fim de sua paciência e provar que está errado. Mas... Ele está errado? Se ele está certo, a quem eu estaria enganando se não a mim mesmo? E se eu não... E se eu não escrever bem? Estou confuso, desgostoso. Nunca me senti tão vazio, sem chão. Por que me tirar a única coisa que realmente importa para mim? Eu mereço isso; só pode ser. É quem eu sou, é o meu perfil, é o meu eu. Eu não importo mais. “Eu” não importa mais. “Eu” não sei. “Eu” não escrevo. Eu só mereço; o vazio desse inferno, desse túnel de escuridão sem fim. Eu não mereço; não tenho mais nada a ganhar ou perder, apenas o vazio. Eu não mereço viver. Eu não tenho mais meu dom. Eu não tenho mais uma vida. Realmente, esta crônica... Ficou uma bosta.