Criminal
Cristina Penedo
Mestre em Ciências da Comunicação pela FCSH da Universidade Nova de Lisboa
Resumo: Num mundo mediático, o crime-notícia configura-se como tema central de comunicação pública, cujo impacto e valor simbólico importa aprofundar. A partir de uma reflexão sobre os efeitos dos media é possível compreender o valor ideológico e a força hegemónica contidas nas notícias criminais, a tipificação e estigmatização operada pelas narrativas normalizadoras em torno do crime, mas também o sentido de crise e de reforma que a sua projecção mediática pode envolver ao evocar a noção de caos e desordem social. Este texto lança também um olhar sobre o tratamento noticioso do crime em dois títulos da imprensa diária portuguesa, apresentando algumas das conclusões de um estudo realizado em dois jornais de grande tiragem. Palavras-chave: Crime; Media; Controlo social.
Crime, tópico de noticiabilidade A incidente presença do crime nos actuais cenários mediáticos, numa profusão de formatos, deixa desde logo antever um tema de grande carga dramática e emotiva, potenciador da atenção do público, mas que é em simultâneo palco da vida colectiva, onde se exprimem desequilíbrios e tensões sociais, onde se revêm e avaliam actos e pessoas individualmente consideradas, ou grupos e instâncias sociais. O crime traduz, na sua essência, um movimento de ruptura com a ordem social, impondo descontinuidades à previsibilidade da vida quotidiana. Pelos contornos de imprevisibilidade (falha), de violência (excesso), e bizarria
© Media & Jornalismo, (3) 2003, pp. 89-102.
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ou perversidade (inversão ), o acto transgressivo constitui matéria de forte projecção mediática1. As histórias do crime contêm em si elementos de grande carga dramática e emotiva o que lhes confere uma tónica muito apelativa na atenção do público, estimulando o voyeurismo do espectador, na medida