Crime passional
É interessante, ou às vezes apavorante, constatar como os sentimentos regem a humanidade. São seres superiores equiparados aos outros seres. Prova maior disso é estarem no topo da cadeia alimentar, e não poucas vezes, devorarem tudo o que encontram pela frente. Mas ainda assim, estão todos eles, propensos a se tornarem vítimas e presas de suas próprias atitudes, que por sua vez, são regidas por sentimentos que os acomete na fragilidade de seu ser. Um exemplo gritante é a paixão. Hoje, cresce ininterruptamente a lista de crimes passionais. Onde o réu é tão vítima quanto o próprio defunto. Aliado a esse sentimento, e que dá força para que se chegue a tal extremo, está o medo. O medo de se ficar só, o medo da rejeição, o medo de não conseguir continuar, o medo do não pertencimento, o medo de ser esquecido e substituído. Tantos medos! Nesses tempos frenéticos, de cidadãos tão competitivos e inseguros, gerados normalmente pela imposição do capitalismo, voto que o mal do século passe a se chamar medo. O chefe de família já acorda com medo das faturas por vencer. Dirige-se ao trabalho com medo de assalto, ou sequestro relâmpago, ou similar. Trabalha sobre a pressão constante de perder seu cargo para alguém mais jovem e menos caro para empresa. Retorna para casa. Exausto. Trânsito. Assalto. Sequestro. Medo. Passa pelo portão sobressaltado, não se acalma até que consiga ver suas duas filhas bem. Passou o dia temendo que algum maluco adentrasse ao colégio e descarregasse várias vezes sua fúria em forma de balas nos pobres e indefesos alunos. É nesse instante de alívio momentâneo que pousa os olhos sobre a esposa, que o faz esquecer quaisquer sentimentos que não o de aconchego, no hálito quente de boa noite de sua amada cúmplice. No fim da noite está mais morto que vivo. Exaurido pelo medo que sentiu o dia todo, vira para o lado e dorme, sem condições para mais nada. Então, sua esposa esquecida, outra vez, no canto do leito, também sente