Cotidiano, Racionalidade e Sereias
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COTIDIANO, RACIONALIDADE E SEREIAS: o “dilema do prisioneiro” como metáfora da questão ambiental Ricardo Barbosa Lima*
Maria das Graças Rua**
Resumo: O artigo parte da constatação de que, entre os brasileiros, a existência de uma horizontal e disseminada consciência ambiental não se faz acompanhar de uma prática cotidiana consistente. Ou seja, mesmo diante do diagnóstico da crise ecológica global ou dos limites do crescimento do atual padrão de desenvolvimento socioeconômico, os indivíduos parecem agir no sentido de sua auto-destruição. A pergunta que então se apresenta é: O que leva indivíduos bem informados sobre como e por que agir corretamente, a não fazê-lo?
Como explicar este fenômeno? Neste pequeno artigo propomos uma aproximação entre a problemática ambiental, o descompasso entre o que se professa e o que se pratica, e o instrumental teóricometodológico proposto por Elster.
Palavras-chave: ação racional; crise ambiental; Elster.
Focalizando o imaginário brasileiro, o professor Hector Ricardo
Leis expressou, durante a II Jornada Internacional sobre
Representações Sociais1, um ponto de vista bastante interessante.
Conforme afirmou, as primeiras pesquisas de âmbito nacional2 já indicavam que o cidadão comum no Brasil seria razoavelmente bem informado sobre as questões e problemas ambientais. Inicialmente, segundo a sua observação, esses resultados deixaram muitos estudiosos bastante entusiasmados. Porém, com o passar dos anos esse entusiasmo
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Doutorando do Centro de Desenvolvimento Sustentável (CDS-UnB) e pesquisador da
Universidade Federal de Goiás.
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Professora do Centro de Desenvolvimento Sustentável (CDS-UnB).
Artigo recebido em 10 jul. 2003; aprovado em 12 ago. 2003.
Sociedade e Estado, Brasília, v. 18, n. 1/2, p. 67-88, jan./dez. 2003
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Ricardo Barbosa Lima / Maria das Graças Rua
foi se desfazendo, na medida em que se percebia que conhecimento