Mudança de vida Após mais um dia seguindo a minha rotina de acordar cedo, ir para a faculdade, biblioteca, estudar, estudar muito, trabalhar, à noite, no bar perto de casa para ajudar minha mãe com as contas e estudar mais um pouco eu só desejava uma única coisa: o dia da formatura. Não foi fácil para mim que estudou a vida inteira em escola pública passar na UFRJ, mesmo tendo sido beneficiado com o sistema de cotas pelo fato de ser negro. Eu estudei como todos os outros alunos de escolas particulares e garanto que minha dedicação foi maior do que a de muitos que também foram beneficiados por esse sistema, porém essa generalização que fazem sobre nós me angustia; “alunos de escola pública que não tiveram a mesma educação de base não deveriam tomar o lugar dos que estudaram em escola particular”. Realmente não há igualdade entre a educação oferecida na pública e na privada, mas eu, por exemplo, que desde pequeno gosto de estudar e quero ser alguém na vida para sustentar minha família e viver bem, não quero entrar nessa frase que tira o mérito dos alunos que estudam nas escolas públicas, mas tem chances de passar porque levam os estudos a sério. Nas escolas públicas, os professores recebem tão pouco para nos dar aula, que eles entram na sala com pouca motivação (não todos, claro). Essa falta de vontade para ensinar também desmotiva os alunos que começam a se ausentar e perdem a vontade de estudar. Tenho em mente que são graças a esses alunos que somos tão generalizados pela sociedade média e alta, que não concordam com o sistema de cotas, porque acham que são esses estudantes que tomarão suas vagas, porém não são. Alunos como eu, que batalhei dia e noite, deixando até de dormir para estudar, que concorrerão pelas mesmas vagas. E foi assim, que eu consegui entrar na UFRJ. Medicina sempre foi minha meta: ajudar as pessoas servia de inspiração para eu seguir em frente. E quando eu recebi a notícia de