Cortei as tranças- Contrato de Leitura
Foi quando a mãe lhe começou a fazer as tranças que Marta deixou de sentir ciúmes dos mimos que a mãe dava ao seu irmão mais novo, o Julinho.
Depois da morte da mãe, ela não voltou à escola e passou a fazer em casa tudo o que a mãe fazia: cozinhar, limpar etc. Um dia, quando foi às compras à mercearia do velho Juquinha- que tinha sempre uma caneta na orelha e que nunca caia, tema que lhe valera a melhor composição por si feita na preparatória e os únicos elogios que recebera na escola- encontrou um casal de médios que procuravam um empregada doméstica e para quem começou a trabalhar.
No início foi um trabalho muito difícil, porque para alem de arrumar a casa tinha de tomar conta de dois gémeos.
Para trabalhar, Marta levou uma bata feita pela sua tia Zulmira, que andava sempre vestida de preto.
Foi pela tia que Marta ficou a saber as histórias das duas irmãs, Zulmira a sua tia e Amelinha, a sua mãe, quando viviam numa aldeia chamada Reixela e decidiram ir para Campelo para serem costureiras, e como encontraram aqueles que viriam a ser os seus maridos. O Carlos, também de Reixela e que tinha morrido na Guerra do Ultramar na Guiné e Adérito, o seu pai.
Foi também pela tia, ou melhor, por causa do ferro da tia, que Marta descobriu a profissão que queria vir a ter, eletricista como o seu irmão mais velho, Francisco.
Com a chegada do irmão do meio, o Miguel, as supressas não pararam de acontecer: primeiro os passeios no carro do Miguel, depois o casamento da tia Zulmira com o seu pai. Só faltava escolher o presente: bonito e barato…