Contos da Montanha
Analisar os contos de Miguel Torga é como analisar reflexos sociais do interior de Portugal. Suas personagens trazem o genuíno habitante da montanha. Ao nos adentrarmos pela paisagem humana das aldeias transmontanas, encontramos em cada esquina os rostos descritos no universo de Torga. Quantas lendas e costumes não nos conta essa gente que a narrativa de Torga registrou. São personagens inseridas no ambiente rústico e pobre das aldeias. São personagens natos nas dificuldades do frio cortante das montanhas e passam pela vida com a visão irônica de todo o meio do qual emanam as tradições, as crenças, o trabalho, a religião.
Tomando como base os “Contos da Montanha”, (8ª edição - Coimbra - 1996), vamos encontrar diversas personagens que nos mostra o universo regionalista de Miguel Torga. Nos contos de Torga as ações decorrem num emaranhado de emoções, onde as personagens vivem tais ações num tempo ilimitado, quase descrito em uma vida. Neles o devir temporal acontece sempre do presente para o futuro, onde o narrador adquire uma existência textual, quase como quem conta a vida das personagens e assume a forma de como elas pensam. Em cada conto o retrato de uma sociedade pobre e tipicamente da época do Portugal do Estado Novo (tais contos foram publicados pela primeira vez em 1941), onde o lema “Deus, Pátria e Família” é perseguido através do profundo catolicismo, do amor à terra e à família, onde a miséria faz dos sonhos e dos ideais situações de mera ironia, quase que um fado.
A Mulher das Aldeias
Maria Lionça, do conto “A Maria Lionça”, aceita com dignidade o seu fado, sem contestá-lo, ao resignar-se à miséria e à dor. O marido emigrou em busca de melhores condições e volta velho e doente; o filho persegue o inconformismo do pai e parte perseguindo o vazio, deixando à Maria Lionça apenas a dignidade da dor, e o respeito de todos pela forma como da vida apenas aceita o fado. Sim, ao abdicar da condição de mulher para apenas