torga
Márcia Manir Miguel Feitosa
(Universidade Federal do Maranhão)
RESUMO
Leitura do conto “A Maria Lionça”, do português Miguel Torga, sob o viés do espaço simbólico e imaginário construído enquanto representação da memória do povo transmontano, mergulhado em seus costumes, crenças e tradições.
PALAVRAS-CHAVE: paisagem; memória; humanismo.
ABSTRACT
This paper is a reading of the short story “A Maria Lionça”, written by the
Portuguese writer Miguel Torga under the light of the symbolic and imaginary space built as representation of the people from behind the montauins who are deep in their costumes, beliefs and traditions.
KEYWORDS: landscape; memory; humanism.
ABRIL – Revista do Núcleo de Estudos de Literatura Portuguesa e Africana da UFF, Vol. 2, n° 2, Abril de 2009
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Miguel Torga e a natureza do sentimento
“Nas cidades a vida é mais pequena
Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.
Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave,
Escondem o horizonte, empurram o nosso olhar para longe de todo o céu,
Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos não podem dar,
E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver.”
(Alberto Caeiro)
Introdução
Miguel Torga é um escritor humanista. Nutre um amor entranhado pelo homem. Mas, para além desse caráter, há o homem transmontano, imerso na realidade agreste de sua região natal com a qual compôs a maioria de seus contos, escritos como sonhos vividos, acalentados no silêncio da montanha.
Marcadamente regionalista, a linguagem de Torga é solidária à miséria e à rusticidade que distanciam o homem da montanha do homem da planície, incitando o leitor a sentir em tal espontaneidade a grandeza de espírito de seus personagens. Ao adotar essa voz coletiva que comanda suas narrativas, Torga estreita a distância entre o narrador e o fato narrado, identificando-se com a paisagem rude das