Conto de Fada
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O MARAVILHOSO E O SIMBOLISMO NO CONTO DE
FADAS: UMA ANÁLISE
Rosane Cardoso*
Resumo: O artigo discute brevemente o sentido do maravilhoso do conto de fadas e seu aspecto simbólico, utilizando como texto de análise o conto O príncipe Dragão, narrativa de origem romena. Cada vez mais parece ser equivocada a concepção do conto de fadas unicamente como um texto didático, violento e sexista oferecido a crianças indefesas ou como algo fantasioso demais em um tempo que exige consciência da realidade. O mundo da magia, das fadas, dos monstros, é parte do imaginário coletivo, do inconsciente, do empirismo. Por isso traz claro, a quem observar-lhe o simbolismo, uma estrutura que evidencia os desejos, a angústia e os sentimentos do homem de qualquer época.
Palavras-chave: conto de fadas; maravilhoso; simbolismo; bestiário; gênero.
A vida é sonho
Calderon de la Barca
O conto de fadas como conhecemos hoje, atravessado por muitas versões e ideologias, distancia-se de seus antecessores de modo quase inatingível. Perdida a relação com a tradição oral, a trajetória da princesa e do príncipe, por exemplo, tornou-se uma história para crianças cujo valor está, a grosso modo, na pura fantasia.
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Doutora, professora do Centro Universitário Univates.
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Signos, ano 25, n. 2, p. 07-19, 2004
Cada vez mais, no entanto, vêm-se desenvolvendo estudos sobre a importância simbólica e psicanalítica desse tipo de narrativa que possibilita desvelar parte do profundo entrelaçamento entre o mundo feérico e os ritos de passagem por que passam os seres humanos. O maravilhoso, em certa instância, é a qualidade que define o conto de fadas. As maravilhas e as monstruosidades, as botas de sete léguas e os espelhos encantados, os animais falantes, os heróis transformados em bestas ou objetos, o homem que pode atingir o tamanho que lhe aprouver, todos os prodígios que criam a atmosfera do conto de fadas desestabilizam