CONSIDERAÇÕES SOBRE O USO PSICANALÍTICO DO TERMO “INTERPRETAÇÃO”
É de praxe iniciar um artigo expondo a etimologia de um termo chave que o caracteriza. Neste artigo acertadamente isso não será feito, pois “interpretação” é uma palavra de origem latina, e em psicanálise, trata-se da tradução dada à palavra “deutung” do alemão de Freud. A diferença que isso faz é que o pai da psicanálise atribui a esse termo conotações diversas do termo latino: “De forma geral, em alemão, a “deutung” se refere a uma atividade interpretativa centrada na descoberta dos sentidos não evidentes, dos significados adicionais.” (Hans, 1996, p.285). Não se trata de traduzir, tal como faria um profissional intérprete, algo que estaria evidente e que não teria sido compreendido por uma questão de linguagem. Assim, para Freud, a compreensão de interpretação vai além dos sentidos aparentes dos sonhos, dos lapsos e dos fenômenos transferenciais.
Na língua portuguesa, segundo o Dicionário Aurélio, interpretar é explicar, explanar ou aclarar o sentido de algo, seja palavra, texto ou lei (Ferreira, 1999), portanto é dar um significado àquilo que está acontecendo, já estando mais próximo da idéia de Freud sobre a interpretação.
Para Freud (1948), a interpretação é o ato de dar sentido (além do evidente, como já exposto) ao material. Em sua obra “A Interpretação dos sonhos”, interpretar um sonho é descobrir seu sentido oculto. Assim, interpretar um material quer seja uma fala, ou o que Inda (1992) chamou de “metáfora do corpo” (gestos, posturas, movimentos), significa dar um sentido a esse material. Dentre os múltiplos instrumentos de que dispõe o analista, a interpretação é sua principal ferramenta. Palavra chave do que se define técnica psicanalítica, já que é através de seu uso que se torna consciente o inconsciente.
Pontalis e Laplanche (2001) contribuem para o esclarecimento do termo, afirmando que a interpretação é a comunicação feita pelo analista ao paciente com o objetivo de fornecer a