Conceito de literatura
Publicado em 14 de março de 2010
TAGS: cultura
Para Goethe, o ideal da Weltliteratur se contrapõe à estreiteza nacionalista do romantismo alemão
Izabela Maria Furtado Kestler
É importante aqui uma explanação concisa sobre a história da Alemanha na primeira metade do século 19. Essa contextualização histórica visa explicar o quadro estético fragmentado da vida cultural alemã. A Alemanha enquanto estado nacional não existia até 1871, data da primeira unificação alemã, que acontece no contexto da Guerra Franco-Prussiana. Trata-se, portanto, de uma formação nacional com séculos de atraso em relação a outras nações européias há muito consolidadas, como França, Reino Unido, Portugal e Espanha.
Havia até 1871 inúmeros estados alemães mais ou menos coligados. Basta lembrar que o Sacro-Império Romano-Germânico da Nação Alemã só deixou de existir por imposição de Napoleão em 6 de agosto de 1806. Essa estrutura imperial, que data do século 15, foi consolidada em 1648 com o Tratado de Paz da Westfália, que pôs fim à Guerra dos 30 anos. A unificação alemã era, portanto, até 1871, apenas um sonho patriótico. Nacionalismo e patriotismo, por outro lado, não fomentam, na maioria das vezes, ideais democráticos. Esse foi o caso da Alemanha desde o início do século 19, quando a ocupação e dominação francesas em vários estados alemães no bojo das guerras de coalizão contra a França revolucionária e as vitórias do exército napoleônico sobre os exércitos dos territórios alemães insuflaram um sentimento nacionalista de cunho francófobo.
Os primeiros movimentos patrióticos em solo alemão estão assim inscritos nesse contexto de resistência à dominação francesa. Os ideais da Revolução Francesa de 1789 – igualdade, liberdade, fraternidade – também são renegados em virtude da preponderância da luta patriótica. Particularismo, busca das raízes populares germânicas, patriotismo e nacionalismo estavam assim na ordem do dia e configuraram o