Comunidades quilombolas
Dentre as unidades constituintes da nação brasileira o estado da Bahia certamente se destaca como uma das mais profundamente marcadas, histórica e culturalmente, pela presença do negro. Presença hoje indissociavelmente ligada à nossa própria identidade regional.
Apesar de tal fato, e do inegável interesse que os chamados afro-brasileiros têm de há muito despertado em estudiosos e literatos das mais diversas tendências, pode¬se constatar que o volume de conhecimento acumulado a respeito e tanto insatisfatório quanto qualitativamente desigual destacando-se o fato de que boa parte deste conhecimento - bem como da ação social dele resultante ¬carrega ainda a marca de um longo comprometimento com os interesses das camadas sociais dominantes, ocupadas em legitimar a condição social inferior das populações negras e negromestiças, e em dissimular a possibilidade de constituírem elas segmentos sócio-culturais relativamente autônomos no bojo da sociedade nacional envolvente.
Neste contexto, é compreensível o privilegio e a ênfase dados a elementos culturais negros tomados de forma isolada superficial e tratados quase sempre como aspectos pitorescos caracterizados como "contribuições" dos negros à cultura nacional e desvinculado das condições sociais e históricas da sua produção.
A dificuldade dos nossos historiadores em compreender o modo de Produção Escravista Colonial, as suas categorias sociológicas, as contradições de classe entre o senhor branco x negro escravizado, colocam as interpretações das ciências. sociais referentes ao escravismo brasileiro em situações duvidosas e errôneas, como é o caso de Fernando Henrique Cardoso, que considerou o escravizado um objeto, uma coisa impossível de ações revolucionárias. Os escravizados destruíram o sistema escravocrata por dentro, usando diversas formas de resistência, com revoltas em navios negreiros, como aconteceu em Salvador em 1823 com os Macuas, o desamor ao trabalho, o aborto, o suicídio