Competência comunicativa
Não se pode discutir o ensino da língua sem levar em conta, no caso do Brasil, uma variável fundamental: a classe social. Esta é responsável pela presença na escola de uma multilplicidade de variedades linguísticas com predominância dos dialetos populares.
Dell Hymes criou o conceito citado no título a partir da necessidade do falante de entender e usar as variedades de acordo com o contexto linguístico e social. A modalidade popular de Língua Portuguesa não está sendo bem trabalhada na escola, que se baseia na norma culta e no dialeto de prestígio como objetivo. E não consegue realizar este objetivo.
O estudo das variedades da Língua Portuguesa, com a ajuda das teorias sociolinguísticas, é necessário para conhecer as distâncias e divergências entre o dialeto popular e de prestígio. Aliás, o comportamento da escola reforça a estigmatização dos dialetos populares. O cerne do problemas do ensino de Língua Portuguesa não seriam os métodos e técnicas e não estaria afeito a planejadores e pedagogos. Manipular técnicas sem ter conteúdo é operar no vazio.
Este tema é do âmbito dos lingüistas e professores de Língua Portuguesa, que não devem apenas se indagar o que fazer mas procurar entender o que está acontecendo, aplicando seu instrumento teórico para resolver o problema prático.
Os estudos sociolinguísticos mostram que se deve relacionar os traços linguísticos e os dados extralinguísticos para ver em que medida as variações dos dois domínios são concomitantes.
Em tom de “blague”, diz Magda Soares que os manuais didáticos são livros de receita frustrados, pois enquanto as receitas culinárias dão certo, as didáticas dão errado.
Deve-se fazer com o ensino da língua materna aquilo que se faz no ensino das línguas estrangeiras: um estudo contrastivo. Apesar de respeitar o dialeto do aluno, o professor deve ensinar o dialeto padrão, pois a língua de cultura é um instrumento de luta social e não temos direito de sonegá-lo às classes populares.