COMENTÁRIOS ACERCA DE BOCAGE
Poema 1: “Apenas vi do dia a luz brilhante”
O poema possui um perfil bastante autobiográfico, pois cobre fatos ocorridos com Bocage no início de sua vida.
Na primeira estrofe (primeiro quarteto), o poeta nos relata que nasceu em Setúbal (“vi do dia a luz brilhante/ Lá de Tubal”) e nos dá conta do infortúnio com que o Destino o marcou desde sua vinda ao mundo, ao ponto de lhe ter roubado a mãe quando ele tinha somente 10 anos de idade (“aos dois lustros a morte devorante/ me roubou, terna mãe”) e, de o ter afastado da Pátria e do resto da família (pai e irmãos) (“Segui Marte depois, e enfim meu fado,/ Dos irmãos e do pai me pôs distante./ Vagando a curva terra, o mar profundo,/ Longe da Pátria, longe da ventura”). O falecimento da Mãe de Bocage, pouco antes de o menino completar os 10 anos de idade, foi certamente um trauma profundo. Desse modo, aos 14 anos, fugiu para assentar praça como cadete no exército de Setúbal.
O poema é escrito em tom confessional. O poeta português expõe suas convicções, tristezas e memórias íntimas em cada um dos versos deste seu soneto. Vale destacar a crença no fatalismo de que ele se sente vítima: o destino, bem ao gosto dos gregos antigos. Por falar nisso, percebemos também a presença de personagens míticos antigos, tais como: Marte (deus da guerra na mitologia grega), Destino e Túbal (figura bíblica do antigo testamento). É da autoria do historiador da época filipina Frei Bernardo de Brito a tese que o personagem da Bíblia, Tubal (neto de Noé), teria dado origem à cidade portuguesa: sede de Tubal = Setúbal). No fim do poema, Bocage prega o desapego à matéria, aos bens materiais, visto que esses são passageiros, iludem e nos aguçam a vaidade, o orgulho e a pobreza espiritual. Notamos também um poeta desencantado, arrependido da vida agitada e desregrada que levou, e angustiado por ter tido este tipo de existência, tão marcada por descaminhos e dramas pessoais. Como