Clastres, P. A sociedade contra o estado
A SOCIEDADE
CONTRA 0 ESTADO
(INVESTIGA
(pag. 435, nota 134) '. Que significa de facto este tipo de vocabuliirio onde os termos embrionario, nascente, pouco desenvolvido, aparecem mutto frequentemente 7 Nao se trata evidentemente da nossa parte de declarar guerra a um autor, pois
S3Jbernos bern quanto esta linguagem e propria da antropologia. Tentamos aceder ao que se poderia chamar a arqueologia desta linguagem e do saber que ere atraves dela dar-se a ver, e perguntamo-nos: que e que esta linguagem diz exactamente e a partir de que lugar diz aquilo que diz7
Constatamos que a ideia de economia de subsistencia queria ser um julgamento de facto, mas envolve ao mesmo tempo urn julgamento de valor sabre as sociedades assim qUalificadas: avaliagao que destroi imediatamente a objectividade que para si reclama. 0 mesmo preconceito - pais, em ultima analise, e de um preconceito quese trata - perverte e vota ao falhango 0 esforgo para julgar 0 poder politico nessas mesmas sociedades. Sabendo que 0 modelo ao qual e relacionado e a unidade que 0 mede sao atntecipadamente constituidos pela ideia do poder tal como foi desenvolvida e formada pela civilizagao ocidental. A nossa cultla'a, desde as suas origens, pensa o poder politico em termos de relagiies hierarquizadas e autoritiirias de eomando-obedH!ncia. Qualquer forma, real ou possivel, de poder e por conseguinte redutivel a esta relagao privilegiada que exprime a priori a sua esseneia. Se a redugao nao e possivel, e porque nos encontramos aquem do politico: a ausencia da relagiio comando-obediencia acarreta ipso/acto a ausencia do poder politico. Existem nao apenas sociedades sem Estado, como ainda sociedades sempoder. De~de hii muito reeonhecemos 0 adversiirio sempre desperto, 0 obstaeulo constantemente presente na investiglagao antropologica, o etnocentrismo que mediatiza todo 0 olhar sobre as diferengas l 14
0 subllnhadQ
e noaso.
para as identijicar e finalmenteas abolir.