Goldman Pierre Clastres Antropologia contra o Estado
Marcio Goldman2
Museu Nacional – UFRJ
RESUMO: Baseado no pressuposto de que não há nenhuma razão para imaginar que os mecanismos “contra-Estado” descobertos por Pierre Clastres nas sociedades indígenas ameríndias tenham sua existência limitada a esse
“tipo” de sociedade, esta comunicação pretende isolar alguns dos princípios, temas e linhas de força principais do pensamento de Clastres. Esse esforço é orientado por minha própria experiência de pesquisa no campo das religiões e das políticas afro-brasileiras, assim como em investigações sobre a história do pensamento antropológico.
PALAVRAS-CHAVE: Contra-Estado, resistência, humor, aforismos.
Há anos atrás, Tânia Stolze Lima e eu escrevemos um pequeno ensaio sobre o pensamento, mais do que sobre a obra, de Pierre Clastres (Lima
& Goldman, 2001). Mais tarde, escrevemos juntos também o “Prefácio” (Lima & Goldman, 2003) para uma nova edição brasileira de seu livro mais conhecido, A Sociedade contra o Estado (que traz como subtítulo, pouco lembrado, Pesquisas de Antropologia Política). Como escreveu Michel Foucault em alguma parte, para cada um de nós existem, sem dúvida, autores sobre os quais se trabalha e autores com os quais se trabalha. Assim, apesar dos dois curtos textos que acabo de mencionar, e ao menos para mim, Clastres sempre fez parte da segunda categoria de
MARCIO GOLDMAN. PIERRE CLASTRES OU UMA ANTROPOLOGIA CONTRA O ESTADO
autores, aqueles com quem se trabalha, o que me provocou, desde que recebi o convite para participar dessa homenagem, a estranha e, nessas circunstâncias, amedrontadora, sensação de não ter mais nada a dizer sobre Clastres – ainda que eu possa ter, certamente, muito trabalho a fazer com ele.
Foi em função dessa sensação que, desde o início, imaginei apresentar algo que dissesse mais respeito a meu próprio trabalho sobre política do que ao autor homenageado. Mas, e ainda que eu já o tenha oficiado algumas vezes, confesso nunca me