Classificação do narrador de "memorial do convento"
Quanto à ciência, apresenta-se, predominantemente, como um narrador omnisciente: um narrador que não só sabe o passado, o presente e o futuro das personagens como também da rumo da trama e da história real, dando-lhe, assim, um carácter intemporal. Saramago justifica este carácter com a seguinte frase: «Porque o tempo é todo um, e não partido em passado, presente e futuro, isso é o que, julgo eu, é a grande linha central dos meus livros.»
Este carácter intemporal atribuído ao narrador permite-lhe antecipar acontecimentos da própria intriga, referir factos futuros posteriores ao tempo narrador, reinterpretar a História, comentá-la e criticá-la, reconstruir textos de autores consagrados, recontextualizando-os em tom irónico e recorrer a provérbios e aforismos que conferem ao texto um tom moralístico.
“São pensamentos confusos, que isto diriam se pudessem ser postos por ordem, aparados de excrescências, nem vale a pena perguntar, Em que estás a pensar, Sete-Sóis, porque ele responderia, julgando dizer a verdade, Em nada, e contudo já pensou tudo isto […]”
José Saramago diz não se ver a utilizar «um narrador que seja […] unilinear» um narrador «que conte e que narre unilinearmente» o «que tem a dizer». Por isso, a atitude que o narrador adota não é constante desde o início até ao fim da história.
José Saramago diz existir um «narrador que se comporta de um modo imparcial», um narrador que «a sua própria subjetividade fora dos conflitos de que é espectador», mas também diz existir um narrador «mais complexo, que não tem voz única». Um narrador