Memorial
A história de Memorial do Convento começa por volta de 1711, cerca de três anos depois do casamento de D. João V com D. Maria ana Josefa de Áustria, e termina vinte e oito anos depois (1739), aquando da realização do auto-de-fé que determina a morte de António José da Silva e de Baltasar Mateus Sete-Sóis.
É na primeira metade do século XVIII que a acção relatada se desenrola, período em que D. João V dirigia os destinos da nação.
Algumas características deste reinado devem ser enumeradas para que melhor se compreendam algumas manifestações políticas, económicas e culturais referenciadas na obra.
Assim, o reinado de D. João V constitui uma continuidade da política absolutista que era alimentada pelas enormes remessas de ouro do Brasil, local que depositava toda a atenção do monarca. É neste reinado que as condições da economia portuguesa melhoram, embora alguns problemas políticos ocorram na vizinha Espanha, concretamente com a Guerra da Sucessão.
D. João V tentou manter-se afastado das manobras políticas, adoptando uma postura neutral face aos jogos de poder que se faziam sentir na Europa.
Vive-se em Portugal um clima de Iluminismo, movimento filosófico que visou difundir o racionalismo cartesiano e o experimentalismo de Bacon, ilustrado no romance pela construção da passarola.
Mas, para travar estas novas ideologias, a Inquisição reforça, nesta época, o seu poder que estende a todos os sectores da sociedade. Ao Tribunal do Santo Ofício cabia o julgamento de vários tipos de crime, e os autos-de-fé constituíam a melhor forma de exibir o poder inquisitorial.
Vários estrangeirados foram contratados para actuarem nos vários campos artísticos, destacando-se Nicolau Nasoni na arquitectura e Domenico Scarlatti na música. A nível literário, o destaque vai para o judeu António José da Silva e para o estilo oratório evidenciado no vasto sermonário português, onde a nossa língua atinge um elevado grau de apuramento.
Na