Caso Dora
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Pulsional Revista de Psicanálise, ano XIII, no 132, 23-33
A transferência na histeria – Um estudo no “caso Dora” de Freud
Sérgio de Gouvêa Franco
O
trabalho examina a transferência da paciente e do analista no caso Dora de
Freud, tomando como apoio o artigo “Intervenção sobre a transferência” de
Lacan. A análise avança quando Freud interpreta a resistência de Dora. A análise pára quando tem dificuldade de reconhecer os complexos mecanismos de identificação histéricos que vacilam entre uma bipolaridade sexual (hetero e homoerótica) – aí a resistência do analista.
Palavras-chave: Transferência, histeria, Dora, Lacan, feminilidade
T
he article examines the transference of patient and analyst on Dora’s case of
Freud, using the Lacan’s article Intervention on Transference as a support. The analysis goes on when Freud is able to interpret Dora’s resistance. But analysis stops when he fails to recognize the complex mechanisms of identification on hysteria, which hesitate between two sexual poles (hetero and homoerotic ones)
– there we can see the analyst resistance.
Key words: Transference, hysteria, Dora, Lacan, femininity
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Se eu te amo, cuide-se.
Joel Birman1
INTRODUÇÃO
Freud atendeu esta moça de apenas dezoito anos, conhecida pelo pseudônimo de Dora, apenas três meses: entre outubro e dezembro de 19002. No início de 1901 ele escreveu sobre o caso, enquanto escrevia também “Sobre a psicopatologia da vida cotidiana”, livro que saiu ainda em 1901. Mas o caso Dora só foi publicado em 1905, com o título
“Fragmento da análise de um caso de histeria”3. Tudo indica que a demora na publicação se deu para proteger a privacidade da paciente. O título original do livro era “Sonhos e histeria, fragmento de uma análise”. O título abandonado aponta para o lugar central que a interpretação dos dois sonhos do caso ocupa no