Caso Dora
A psicanálise é uma experiência dialética e esse caso apresentado por Freud opera-se por uma série de reversões dialéticas (Regresso ao primitivo estado,onde um posicionamento é defendido e contradito logo depois).
Primeiro desdobramento: depois de assegurar-se de que podia confiar nele, Dora relata a Freud a ligação entre seu pai e a Sra. K, sendo ela, Dora, oferecida como moeda de troca ao Sr. K. Pergunta ela a Freud: E quanto a isso, o que o senhor quer mudar? Como primeira reversão dialética, Freud lhe propõe que verifique a participação que ela toma nos transtornos de que se queixa.
Segundo desdobramento: Dora reconhece que sua cumplicidade permitiu que prosseguisse a relação entre os dois amantes, e ela descreve a troca dos presentes. Quanto à relação edipiana, ela se revela constituída em Dora por uma identificação ao seu pai, da qual Lacan se questiona, desde seu primeiro texto, se não seria favorecida pela sua impotência sexual. Acrescenta até que essa impotência seria experimentada por Dora como idêntica à prevalência de sua posição de riqueza (fortuna) e sublinha uma alusão inconsciente possibilitada pela semântica da palavra fortuna em alemão: Vermögen. Essa identificação ao pai se traduz pelos sintomas de conversão e sua interpretação desperta o surgimento de um grande número deles. Mas, então, o que significaria o ciúme repentino de Dora em relação a seu pai? Segunda reversão dialética: Freud assinala que esse ciúme mascara um outro, pelo sujeito rival.
Terceiro desdobramento: o apego fascinado de Dora a Sra. K (de quem ela exalta a brancura encantadora do corpo) e suas confidências recíprocas. Então, Freud