julgamento de capitulina
No capítulo 116, “Filho do Homem”, Bentinho quer saber do agregado José Dias sobre o distanciamento da mãe, Dona Glória. José Dias responde que não percebia esse afastamento, que a sogra até elogiava a nora. Bentinho insiste:
“– Mas por que é que não nos visita há tanto tempo?”
“– Creio que tem andado mais achacada dos seus reumatismos. Este ano tem feito muito frio... Imagine a aflição dela, que andava o dia inteiro; agora é obrigada a estar quieta, ao pé do irmão, que lá tem o seu mal...”
Bentinho “quis observar-lhe que tal razão explicava a interrupção das visitas, e não a frieza quando íamos nós a Matacavalos”.
O fato de agregado José Dias se dispor a explicar o distanciamento de Dona Glória, significa, obviamente, que ele, o agregado, concordava com tal afastamento. E a explicação explica, mas não justifica. Indisposições não são suficientes para arredar uma avó de seu único neto, filho de seu único filho.
Coração de mãe não se engana. Capitu traiu Bentinho.
No século 19, uma mulher vinha ao mundo para ser esposa e mãe. Tornou-se esposa de Bentinho circunstancialmente, sem qualquer paixão, porque eram vizinhos desde a infância e não havia concorrentes para ela – Bentinho não se interessava por ninguém mais no mundo além de Capitolina Pádua – e também não havia concorrentes para ele, ou seja, Capitu casou-se com Bentinho porque tinha de se casar – em sua época, uma mulher que não se casava não cumpria o destino feminino previamente traçado pela sociedade burguesa.
Bentinho é um personagem romântico, tinha seus ideais pequeno-burgueses: constituir uma família e ser “feliz para sempre”.