Inverção do livro Dom Casmurro para a narrativa de Capitu

Depois de tanto tempo, enchi-me de coragem e resolvi escarafunchar meu passado que tanto me causou sofrimento e fez-me, até hoje, receber acusações e sofrer com elas. Alguns me deram por inocente, outros me condenaram à morte por adultério.
Você, se um dia amou como eu, e já teve um lado seu despertado no qual adormecia há muito tempo, certamente irá me compreender. Sou uma mulher do século XIX e o que me encorajou a escrever foi não suportar mais as assombrações desse pesadelo tão real. Não consigo até hoje colocar minha cabeça no travesseiro e ter uma noite de sono tranquila ao lembrar que, em algum lugar desse mundo, alguém está lendo minha história e fazendo dela um julgamento com direito a defesa e acusações.

Quanto a Bentinho, não guardo rancor ou raiva, afinal, nunca abriguei esses tipos de sentimentos, apenas sofro e lamento seu equivoco e sua incapacidade de se comunicar.

Minha vida se divide em três partes, a primeira foi antes da ida de Bentinho ao seminário, a segunda, a ida de Bentinho ao seminário e nosso casamento, e a terceira, após o casamento e a chegada de Ezequiel. E é com muita dor e alegria que narrarei os fatos ocorridos, em ordem cronológica.

E foi assim que tudo começou. Eu estava na rua, escrevendo no muro com um prego os nossos nomes (Bento e Capitulina) e de repente me vem Bentinho correndo e pálido. Assustada com essa cena, perguntei:

-O que aconteceu?

-Você não vai acreditar. Ao entrar na sala ouvi a conversa entre minha mãe e José Dias.

-Oras, Bentinho, o que há demais? Já cansamos de fazer isso.

-Não!Não! Essa não era apenas uma simples conversa, minha mãe falou que precisa o quanto antes me mandar ao seminário. Acham estranho nós dois vivermos juntos.

Logo em seguida, Bentinho percebe nossos nomes escritos no muro. Sem ao menos percebermos, começamos uma troca de olhares constante em que, pelo menos eu, ao admirar seus olhos, fazia planos e pensava: Será que é fruto de minha imaginação? Será que por mim