Casa Grande e senzala
A colaboração de Freyre, embora interpretada por seus críticos como um esvaziamento do conflito entre colonizador e colonizado, se deu por retratar em Casa-grande & senzala as relações sociais a partir do cenário do Brasil colonial e influenciado por sua formação de origem: a antropologia cultural norte-americana. Sua análise teve como plano de fundo a ótica do relativismo. Por isso valorizou a mestiçagem, antes depreciada, e a contribuição do negro, que até então era ignorada pelos estudos em torno da formação da sociedade brasileira. Ao descrever a intimidade da sociedade colonial, Freyre expôs o contexto de origem dos antagonismos que compõem a ordem social no Brasil da atualidade.
Freyre destaca como a hibridação da sociedade portuguesa facilitou a “mistura” que originaria o brasileiro. Ele não parte de um Brasil já formado, mas resgata a origem do português para fundamentar seus argumentos, especialmente para apresentar que o que estalou aqui foi uma estrutura social pronta, acabada, completa. Tal estrutura deixou resquícios difíceis de serem apagados e que demorará um pouco para serem desconstruídas.
O Brasil de Freyre é o Brasil do parentesco, da familiaridade, um Brasil escravocrata e patrimonialista. Um Brasil que se mostra a partir da sua cultura, onde está, até mesmo por meio da culinária, exerce grande influência na vida social e em sua estrutura. É certo que essa abordagem é fruto de sua formação. Embora alvo de muitas críticas, possibilitou enxergar o Brasil com um ângulo diferente até então apresentado. Rompeu, de certa forma, com a interpretação baseada nas lutas de classe para entender as relações cotidianas a partir dos elementos culturais presente na época em análise.