Carta

541 palavras 3 páginas
Para Buda

Falando pela voz de um simplório experiente que obviamente preferia ser um queixoso castrado e infantil. Esta nota deverá ser bem fácil de compreender. Todos os avisos dos cursos de punck rock 101, ao longo dos anos. Desde a minha primeira introdução à, diremos, ética associada à independência e à aceitação na vossa comunidade, provaram-se verdadeiros. Há anos que não sinto a excitação de ouvir, ou mesmo criar música, nem sequer compor e escrever. Sinto-me culpado, para além daquilo que as palavras exprimir. Por exemplo, quando estamos no backstage e as luzes se apagam e o barulho ensurdecedor do público começa, não me impressiona da mesma forma que impressionava Freddy Mercury, que parecia adorar e saborear o amor e adulação do público, o que é algo que eu admiro e invejo nele. A realidade é: Não sou capaz de vos enganar. Nenhum de vocês. É simples, não seria justo nem para vocês nem para mim. O pior crime que eu imagino cometer seria enganar as pessoas, ludibrificando-as e fingindo que me estava a divertir a 100%.

Ás vezes parece-me que preciso de um toque de gongue para me empurrar para o palco. Tenho tentado tudo ao meu alcance para apreciar isso ( e ainda tento, Deus, acreditem que tento, mas não é suficiente).

Reconheço que eu e nós influenciámos e divertimos muita gente.

Eu devo ser um desses narcisistas que só dá valor às coisas quando as perde. Sou muito susceptível. Tenho de estar já um pouco entorpecido para recuperar o entusiasmo que tinha quando era criança.

Nas últimas 3 tournées consegui dar muito mais estima às pessoas que conheci pessoalmente e aos fãs da nossa música, mas mesmo assim não consegui ultrapassar a frustração, a culpa e a empatia que sinto por toda a gente. Há algo de bom em todos nós e eu simplesmente amo demasiado as pessoas. Amo-as tanto que faz-me sentir tão triste. O tristonho, susceptível, insensível, peixes, Jesus meu! Porque é que não gozas a cena? Eu não sei!

Tenho por mulher uma deusa que transpira

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