Capitulo 2 - Preconceito linguístico - Bagno
1. Os três elementos que são quatro
O círculo vicioso se forma da união de três elementos que o autor define como “Santíssima Trindade” do preconceito linguístico. Esses três elementos são a gramatica tradicional, os métodos tradicionais de ensino e os livros didáticos.
Como é que se forma esse círculo? Assim: a gramática tradicional inspira a prática de ensino, que por sua [pg. 73] vez provoca o surgimento da indústria do livro didático, cujos autores — fechando o círculo — recorrem à gramática tradicional como fonte de concepções e teorias sobre a língua.
Os já citados Parâmetros curriculares nacionais reconhecem que existe muito preconceito decorrente do valor atribuído às variedades padrão e ao estigma associado às variedades não-padrão, consideradas inferiores ou erradas pela gramática. Essas diferenças não são imediatamente reconhecidas e, quando são, são objeto de avaliação negativa.
Se já existe uma mudança de atitude nos livros didáticos e na pedagogia oficial, por que o círculo vicioso do preconceito linguístico continua girando?
Existe um quarto elemento que é oculto. Mas, afinal, que quarto elemento é esse? É aquilo que resolvi chamar de comandos paragramaticais.
É todo esse arsenal de livros, manuais de redação de empresas jornalísticas, programas de rádio e de televisão, colunas de jornal e de revista, CD-ROMS, “consultórios gramaticais” por telefone e por aí a fora. Ao invés de facilitar a compreensão do que tem dúvida de como falar ou escrever, só complica mais. Assim, tudo o que elas fazem de concreto é perpetuar as velhas noções de que “brasileiro não sabe português” e de que “português é muito difícil”
E é uma pena que seja assim, o bom mesmo é que esses recursos de informação fossem utilizados, usados precisamente na direção oposta: na destruição dos velhos mitos, na divulgação do que há de realmente fascinante no estudo da língua. Mas não é assim, toda vez que alguém se propõem a