Capital
O INDIVÍDUO E A DÍADE
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Georg Simmel
1. INTRODUÇÃO
Nossa discussão refere-se às formações sociais que dependem donúmero de seus elementos componentes. Até agora fomos incapazes deformular esta dependencia de maneira a permitir a derivação de conseqüenciassociológicas de certos números específicos. Isto não é, contudo, impossível, senos contentarmos com estruturas suficientemente simples. Se começarmoscom o limite inferior da série numérica, aparecerão magnitudes aritmeticamentedefinidas, que são as pressuposições inequívocas de formações sociológicascaracterísticas.
2. O INDIVÍDUO ISOLADO
A estrutura numericamente mais simples dentre as que podem sercaracterizadas como de interação social, ocorre entre dois elementos. Existe,entretanto, um fenômeno externamente ainda mais simples, que também fazparte das categorias sociológicas por paradoxal e contraditório que isto possaparecer - trata-se do indivíduo isolado. É uma verificação, contudo, serem osprocessos formadores do dual mais simples, com freqüência, que aquelesnecessários à caracterização sociológica do singular. Para análise deste último,são dois os fenômenos relevantes: isolamento e liberdade. O mero fato de umindivíduo não interagir com outros não constitui, é claro, um fenômenosociológico; assim como não exprime, também, a idéia integral de isolamento.Isto porque, na medida em que é importante para o indivíduo, o isolamento nãosignifica apenas a ausência da sociedade. Pelo contrário até, a idéia envolve a existência ideal, ainda que rejeitada, da sociedade. O isolamento adquire seusentido unívoco e positivo na medida em que é considerado como um efeito dadistância social - mesmo que sob forma de sobrevivência penosa do passado,de antecipação de contratos futuros, de nostalgia ou de intencional voltar ascostas à sociedade. O homem isolado não sugere um ser que habitassesolitário a terra, desde os seus primórdios. Pois também a sua condição édeterminada pela associação, ainda que