Candomblé: orgulho no terreiro, vergonha na escola. por quê?
A vergonha e o medo da discriminação vêm sendo construídos há muito tempo e atingido muitas gerações. A maioria das crianças e jovens, diz, ou disseram, ser católicos para escapar do preconceito.
Ricardo Nery, por volta dos 4 anos, foi chamado de “filho do diabo”, por uma professora. Joyce, aos 13 anos, dizia: “Sou do candomblé, mas na escola não entro com meus colares e guias, digo que sou católica porque na escola sinto vergonha. Também só vou para a escola de camisa de manga cumprida para esconder as curas!” Para ela, o preconceito religioso está associado ao preconceito racial. “Porque na rua já me disseram: é negra! Só podia ser macumbeira!”
Para a pesquisadora Eliane Cavalleiro, a ausência do debate social condiciona uma visão limitada do preconceito por parte do grupo familiar, impedindo a criança de formar uma visão crítica sobre o problema. “Tem-se a idéia de que não existe racismo, principalmente por parte dos professores, por isso não se fala dele. Por outro lado, há a vasta experiência dos professores em ocultar suas atitudes e seus comportamentos preconceituosos, visto que estes constituem uma prática condenável do ponto de vista da educação.”
A estratégia de “tornar-se invisível” é construída dolorosamente por crianças e jovens de candomblé.
Nove de 14 professores nunca pensaram sobre isso, porque não acreditam que existam crianças dessa religião na escola. Uma professora afirmou: “Não temos crianças com esse ‘problema’ aqui na escola. A maioria é católica.” Cinco professores afirmaram que achavam um “absurdo” crianças praticarem candomblé. “As crianças não devem ser induzidas à macumba só porque os pais freqüentam”, respondeu uma professora. “O catolicismo não é coisa do diabo, é a religião normal.” Uma professora acrescentou: “Os macumbeiros que me perdoem, mas nos terreiros só acontece sexo.” A mesma professora revelou que jamais havia pisado em um terreiro, mas que tentaria também “tirar da