Campo de concentração: experiência limite
EXPERIÊNCIA LIMITE
Marion Brepohl de Magalhães*
É um homem quem mata, é um homem quem comete ou suporta injustiças; não é um homem que, perdida já toda a reserva, compartilha a cama com um cadáver. Quem esperou que seu vizinho acabasse de morrer para tirar-lhe um pedaço de pão, está mais longe (embora sem culpa) do modelo do homem pensante do que o pigmeu mais primitivo ou do sádico mais atroz. Uma parte de nossa existência está nas almas de quem se aproxima de nós; por isso, não é humana a experiência de quem viveu dias nos quais o homem foi apenas uma coisa ante os olhos de outro homem.
Primo Levi
RESUMO
O objetivo deste artigo é o estudo de alguns aspectos da violência exercida nos campos de concentração da Alemanha nazista, considerando os elementos de cristalização que predispuseram os indivíduos a praticarem ou tolerarem o ato extremista. Analiso também, no tocante à violência contra o pensamento, as relações entre memória e História, valendo-me do testemunho de um sobrevivente que fez de toda a sua atividade intelectual um esforço para compreender o significado daquilo que tornou possível e memorável Auschwitz.
Palavras-chave: campos de concentração, violência, memória.
* Professora Adjunta da Universidade Federal do Paraná. Bolsista do CNPq.62 MAGALHÃES, M. B. de. Campo de concentração...
História: Questões & Debates, Curitiba, n. 35, p. 61-79, 2001. Editora da UFPR
ABSTRACT
The aim of this article is the study of some aspects of the violence excercised in Nazi Germany’s concentration camps, taking into account the facts that led people to participate in extremely violent actions or to tolerate them. It also analyses, in terms of violence against thought, the relationship between memory and History, founded on the testimony of one of the survivors who directed all his intellectual activities to the effort of understanding the significance of all that made Auschwitz possible and unforgettable.