Bourdieu
Pierre Bourdieu
Eu gostaria de falar brevemente da noção de censura. A censura que deixa sua marca em toda obra, está também em ação nesta assembléia. O tempo para falar é um recurso raro e tenho bastante consciência do grau em que a tomada da palavra é uma monopolização do tempo para falar e guardar a palavra por muito tempo. O que quero dizer pode se resumir numa fórmula geradora: toda expressão é um ajustamento entre um interesse expressivo e uma censura constituída pela estrutura do campo em que ocorre esta expressão, e este ajustamento é o produto de um trabalho de eufemização podendo chegar até ao silêncio, limite do discurso censurado. Esse trabalho de eufemização leva a produzir algo que um acordo de compromisso, uma combinação do que era para ser dito, que tinha como objetivo ser dito, e do que poderia ser dito dada a estrutura constitutiva de um certo campo.
Dito de outra maneira, o dizível num certo campo é o resultado daquilo que se poderia chamar de "dar forma": falar é dar formas. Com isso eu quero dizer que o discurso deve suas propriedades mais específicas, suas propriedades de forma, e não apenas o seu conteúdo, às condições que determinam o campo de recepção onde esta coisa a dizer será ouvida. É por aí que se pode superar a oposição relativamente ingênua entre a análise interna e a análise externa das obras ou dos discursos. Do ponto de vista do sociólogo, que tem seu próprio princípio de pertinência, isto é, seu próprio princípio de constituição de seu objeto, o interesse expressivo será o que se pode chamar de interesse político no sentido bem amplo, entendendo-se que em todo grupo há interesses políticos. Assim, no interior de um campo restrito (como o constituído por esse grupo, por exemplo), a polidez é o resultado da transação entre o que há a dizer e as coerções externas constitutivas de um campo. Vejamos um exemplo tomado emprestado de Lakoff. Diante do
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Intervenção no colóquio La science des