Bolívia e Evo Morales
ATORES NA BOLÍVIA: O GOVERNO DE EVO MORALES
Luis Fernando Ayerbe
O nacionalismo revolucionário
A insurreição popular que coloca no poder em 1952 o
Movimiento Nacionalista Revolucionario (MNR) marca o momento culminante de um processo de crise econômica, política e social que se iniciou com a queda dos preços internacionais do estanho a partir de 1929 e a derrota da
Bolívia para o Paraguai na Guerra do Chaco (1932-1935)1.
Nas primeiras décadas do século XX, a Bolívia consolida sua posição como segundo produtor mundial de estanho2, atrás da Malásia. Em 1930, esse minério é responsável por 74% das exportações bolivianas, sendo que a prata, chumbo, zinco, cobre, bismuto, tungstênio e antimônio O motivo da guerra foi a pretensão boliviana de ter acesso ao rio Paraguai através do Chaco. Posteriormente, acusou-se a Standard Oil de ter influenciado na decisão de declarar a guerra, por causa da disputa com a Royal Dutch Shell pelas reservas petrolíferas no Paraguai e sua intenção de obter uma saída pelo Atlântico, através da Bacia do Prata, para sua produção na Bolívia.
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O controle de 74% dessa produção de estanho se concentrava em três grupos privados. O mais poderoso deles, dirigido por Simon Patiño, detinha quase 59% em 1929, em segundo lugar vinha o de Mauricio Hotchschild, com 10% e em terceiro o de Felix Aramayo, com 5%.
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Crise de hegemonia e emergência de novos atores na Bolívia: o governo de Evo Morales
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representavam 20%. Essa consolidação do modelo mineiro-exportador coincide, no plano político, com uma fase de estabilidade institucional em que governos conservadores, liberais e republicanos se sucedem no poder.
A alta constante dos preços internacionais do estanho não se traduzia, para o conjunto da economia boliviana, num grande impulso dinamizador. Participando com 40% do PIB, a