Becker, Howard. Outsiders. Estudos de sociologia do desvio.
Propor uma teoria interacionista do desvio: é este o principal objetivo de Howard S. Becker no livro Outsiders. Quarenta e cinco anos depois de sua primeira edição em língua inglesa, surge a primeira edição brasileira da já clássica obra do sociólogo norte-americano, que insiste em traçar sua genealogia a Everett Hughes, Robert Park e William Thomas, entre outros grandes nomes da Escola de Chicago.
O livro é um marco nos estudos sobre desvio, efetuando importantes deslocamentos de foco: da ideia essencializada de "crime" para o termo desvio, que supõe uma relação social; do foco no indivíduo para o foco nas relações, que produzem regras e exigem seu cumprimento; da naturalização das regras para a produção social das mesmas e os processos de imposição de rótulos sobre os que são designados como desviantes.
Ao longo dos dez capítulos do livro, Becker nos leva a conhecer usuários de maconha, músicos de casas noturnas, "quadrados" e empreendedores morais, todos esses "tipos" sendo agentes em processos que produzem carreiras, estilos de vida e visões de mundo que não deixam de ser reais por serem socialmente construídos. O mundo social, ou melhor, os mundos sociais concebidos por Becker são compostos por pessoas que, agindo juntas, com diferentes graus de comprometimento, produzem realidades que também as definem. Assim, Becker cita a máxima de W. Thomas de que "Se os homens definem situações como reais, elas são reais em suas consequências" (:12), ao mesmo tempo em que invoca George Herbert Mead e Herbert Blumer ao insistir que as pessoas agem juntas (:183).
O primeiro capítulo, que mantém o título original Outsiders, começa por um exercício de relativização das regras sociais que definem situações e comportamentos como "certos" ou "errados". Segundo Becker, regras, desvios e rótulos são sempre construídos em processos políticos, nos quais alguns grupos