Banquete
Adaptado do texto de Marilena Chauí, Introdução à Filosofia I – Dos pré-socrático a Aristóteles,
PP.208-212, Companhia das Letras, 2002, São Paulo
Narrador: O poeta Agatão convida seus amigos para um banquete em sua casa, festa em que os gregos se reunião para beber, comer, ouvir música e conversar.
Começam a conversar sobre Eros, o deus do amor. O primeiro a falar é Fedro.
Fedro: Eros é o mais velho dos deuses, pois não lhe conhecemos nem pai nem mãe; o mais bondoso para com os homens, pois os faz envergonharem-se do mal e imitar o bem, inspirando-lhes coragem e devotamento; o mais capaz de fazer os homens virtuosos nesta vida e felizes na outra. Os nascidos de
Amor são recompensados pelos outros deuses, porque aquele que ama sacrifica-se pelo amado, torna-se divino porque habitado pelo deus.
Narrador: Disse Pausânia
Pausânidas: Parece-me, caro Fedro, que nosso elogio está malfeito. Estaria bem, se houvesse um único
Eros, porém, há mais de um e precisamos saber qual deles merece nossa homenagem. Assim como há duas Afrodites, a celeste e a popular, também há dois Eros, um celeste, mais nobre, que preside o amor entre as almas masculinas, e um popular, grosseiro e simplesmente sexual. Ao primeiro devemos render tributo. Não é belo nem feio – sua beleza e fealdade dependem das qualidades ou defeitos, virtudes ou vícios dos amantes. Feio, se apenas corporal, pois a flor do corpo é efêmera, logo murcha, lançando o amado no abandono e no sofirmento. Belo, se espiritual, pois quem ama uma bela alma permanece-lhe fiel a vida inteira. Eros celeste é benéfico aos indivíduos e à Cidade.
Narrador: Erixímaco interveio, tomando a palavra.
Erixímaco: Embora começasse bem, Pausânias concluiu mal, por isso o farei em seu lugar. Sim, há dois
Eros. Médico, eu sei, pois ele não se ocupa apenas dos corpos, mas também das almas. Mádico, porém, sei que Eros é mais vasto, que seu poder não se limita aos homens, mas estende seu império a todos os seres. O que é Eros? A